Marcos Campos: O desbravador das ilhas chega à famosa travessia Capri-Nápoles

Referência no país quando o assunto é ultramaratonas aquáticas, o taubateano está pronto para fazer sua estreia em travessias no velho continente. Mas a escolha pela prova na belíssima ilha de Capri não foi à toa. Acostumado à desbravar novos percursos, principalmente ilhas, como fez recentemente ao nadar 42k entre Florianópolis e Porto Belo, o Aquaman aguarda ansiosamente pelos desafios intensos no mar mediterrâneo, em um percurso considerado um dos mais difíceis do circuito mundial. A travessia do brasileiro está marcada para o dia 14 de julho.

Mormaii Natação: Você já deu a volta na Ilha Anchieta (SP), Ilha do Mel (PR), Key West, nos Estados Unidos, nadou de Floripa para Porto Belo e agora chegou a vez de Capri-Nápoles… De onde vem essa fascinação por ilhas?

Marcos Campos: Há uns anos atrás, eu e um grande amigo, Samir Barel, também ultramaratonista aquático, estávamos conversando sobre o prazer de nadar e ainda ver a felicidade de todos ao redor com suas conquistas pessoais, independente de qual fosse o desafio. Nisso, percebi que a maior parte das travessias ocorre no mar, rio ou represa e tive a ideia de fazer algo diferente, que é contornamos ilhas, uma coisa que quase ninguém faz. Muitas são belíssimas tanto por dentro como fora da água, porém a maioria das pessoas desconhece e por isso mesmo vários locais ainda são pouco explorados pela modalidade. Daí surgiu o projeto Desafios Aquaman, que consiste em contornar a nado ilhas oceânicas, continentais ou fluviais, de importância histórica, natural e cultural e por meio disso dar mais visibilidade para a modalidade e mesmo incentivar a descoberta de novas rotas Brasil afora. Fora isso, também busquei outras provas nesse sentido, como Key West e um dia, quem sabe, pretendo dar a Volta à Ilha de Manhattan, uma das provas mais importantes da maratona aquática mundial.

MN: Para o nadador, existe muita diferença entre contornar a ilha e só fazer o percurso ponto a ponto, da ilha para o continente, ou vice e versa? Quais são as vantagens de cada tipo de trajeto?
MC: Na verdade todo percurso, quando foge das tradicionais voltas nas bóias, vai sempre me atrair mais. Por isso, sendo de um ponto para outro ou dando a volta numa ilha eu sempre vou preferir! Afinal você tem mais dinâmica nas paisagens e isso acaba sendo motivador na hora do nado. A vantagem de fazer um percurso “fechado” é que você fica com referências mais fáceis e mais fixas, no percurso “aberto” você tem que estudar antes e buscar as referências que lhe darão noção de localização e navegação necessária.


MN: A Travessia Capri-Nápoles é uma das mais prestigiadas da Europa e também uma das mais difíceis. Apesar de já estar acostumado com grandes desafios, como os 88k na Argentina, como foi a sua preparação para esta prova? Você fez algum treino específico ou alterou algo na sua rotina para encarar esse desafio?

MC: Provas longas exigem sempre um volume mais alto de treino. Sendo assim, mantivemos de 2 a 3 dobras por semana desde o começo do ano. Além disso bastante fortalecimento de ombros e pescoço, pois além de ser um mar “mexido” existe a navegação frontal que exige mais dessa região. E o pior, no meu caso, é uma água um pouco mais fria. Tenho uma grande com temperaturas, então estou fazendo alguns treinos em agua fria, encarando banho gelado e ajeitando a dieta para garantir uma reserva maior de gordura.


MN: Você gosta de nadar em águas mais quentes, como as de Key West, nos Estados Unidos. Mas no Mar Tirreno, onde está Capri, a temperatura média da água, nessa época do ano, é de 21, 22 graus. Quais as maiores dificuldades em nadar com baixas temperaturas, tanto na sua preparação, como no dia da prova?
MC: Sim! posso dizer que água quente que é meu forte! Sempre me dei bem em águas como a do Rio Negro em Manaus e a De Key West. Para algumas pessoas 21, 22 graus é super tranquilo mas pra mim não é mesmo. Isso é da sensibilidade de cada um, então também estamos focados nos treinos em conquistar mais tolerância à essa situação. Por isso, estamos treinando em água mais fria, tomando banhos gelados para que o cérebro entenda a sensação de “frio” vai existir e vai ter que ser superada! O que me anima um pouco é que fora da água vai estar quente e com certeza isso irá me motivar!

MN: Você é especialista em provas de longa distância. Como manter a concentração por mais de 6 horas nadando? O que vc pensa durante a travessia?
MC: Eu busco quebrar o desafio em várias partes e isso vai fazendo com que cada trecho e cada alimentação seja uma “mini”conquista! A cada trecho desses eu vou mentalizando pessoas, família e amigos que fizeram parte e que, com toda certeza, estão mandando ótimas energias naquele momento. Evito ao máximo pensar na chegada, pois isso acaba nos deixando ansiosos. Eu sempre prefiro pensar que falta muito do que falta pouco! Assim não crio vacilos mentais!

MN: O vento forte e imprevisível é uma das características típicas entre a Ilha de Capri e o continente. Como isso interfere na natação? E como se preparar para essa adversidade?
MC: Sim, mar agitado, ondulação e bastante vento é característico nesse trecho! O que mais busco na minha preparação é a capacidade de adaptação. Adaptar a braçada, frequência (giro) de braçadas e principalmente em ter paciência em determinados momentos onde parece que tudo está “contra”o nado.

MN: No dia 14 de julho vc será o único brasileiro entre os 6 nadadores confirmados para a realização da travessia solo. A última brasileira a fazer sucesso em Capri foi Ana Marcela Cunha, que em 2014 bateu o recorde feminino nos 36k (6h24min47). Qual a expectativa para representar o país neste desafio?

MC: É sempre uma honra pra mim poder estar com a bandeira do Brasil no peito! A expectativa é conseguir canalizar toda a energia dos treinos, da preparação e da torcida no meu nado, conseguindo assim imprimir o meu melhor nesse belíssimo desafio! Sempre com o objetivo de completar e conseguir contagiar e trazer mais adeptos pra essa modalidade tão amada!

MN: O recorde masculino da travessia de 36k é do cazaque Yury Kudhyakov (6h11min27), de 2014. Matheus Evangelista foi o brasileiro que mais se aproximou da marca (6h13min29), também 2014, sexto melhor tempo da prova. No fim de 2016, você quebrou o recorde de Luiz Lima na Travessia do Leme ao Pontal, que já durava 9 anos. Acha que após 6 meses vem mais recorde por ai?

MC: Sinceramente acredito que não. A travessia Capri Napoli tem atletas com níveis incríveis de nado na prova oficial, que faz parte do circuito FINA, onde forma-se aquele grande pelotão com atletas profissionais, que treinam só para isso, alinhado a estratégia em busca de uma vitória. Acredito que esse meu desafio será menos “pegado” onde o meu principal objetivo será chegar bem em Napoli! Mas, como tudo é variável na maratona aquática, não depende apenas de nós e sim também das condições da natureza, vamos aguardar para ver o que as correntes prepararam pra mim!!

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