Patrícia Farias: Debutando nas águas mais desafiadoras do planeta

Praticante da natação em águas abertas desde 2011, a carioca encara no próximo dia 30 de junho sua primeira ultramaratona aquática no exterior. E a estreia será em grande estilo. A travessia Capri-Nápoles é uma das mais prestigiadas do circuito mundial. Isso porque, além de ser uma das mais antigas do velho continente, era até 1992 a única prova que garantia ao vencedor o título de campeão mundial das águas abertas, tamanho era o desafio a ser cumprido. Primeira e única nadadora à concluir solo a Travessia do Leme ao Pontal, a maior maratona aquática do Brasil, com 35 quilômetros, Patrícia contou como foi a preparação e qual a expectativa para a prova.

Mormaii Natação: Após 6 anos de experiência na maratona aquática, por que a escolha de Capri-Nápoles como primeira prova no exterior?
Patrícia Farias: Capri-Nápoles é uma das maiores, mais prestigiadas e desafiadoras da Europa, além de nos proporcionar um belíssimo visual. Essa travessia também faz parte do circuito Grand Prix de Águas Abertas da FINA (provas acima de 15km), apesar de ser disputada em outra data diferente da minha, e já foi completada por grandes nomes, como a nossa Ana Marcela Cunha, que inclusive é a atual recordista do percurso. Então, gostaria que a minha primeira travessia no exterior fosse tão especial quanto essa prova é para o circuito mundial de águas abertas.

MN: Desde quando vocês está se preparando para esse desafio? Como foi a rotina de treinos até aqui (horas por dia na academia, piscina, mar)?
PF: Estou me preparando para este desafio desde outubro 2016, quando também estava em fase de preparação para a Travessia 14 Bis – 24km. Faço treinos de barco que duram em média de 4h a 6h, e as provas que participo também fazem parte da preparação, desde as de 2km quanto as de 20km/24km. Minha rotina é basicamente assim: nado todos os dias, intercalando praia e piscina, com um volume diário que fica em torno de 10km. Faço dobras de treino piscina de 2x a 3x na semana, dependendo do calendário de provas, e malho na academia 3x por semana, com duração de 1h30 p/ dia. Uma rotina um pouco puxada, mas que ao final sempre vale a pena.

 

MN: Além da parte física, fez algum trabalho nutricional? Teve acompanhamento psicológico e de outros profissionais?
PF: Sim, conta com o apoio de uma equipe multidisciplinar, que orienta meu treinamento juntamente com o Coach Renato. São eles: Marcos Arzua (apoio técnico), Cláudia Arakaki (psicóloga – CAMPsicologia), Júlia Vasconcellos (nutricionista – Nutricorp), médico Arthur Cortez, Mariana Dias (massoterapeuta, fisioterapeuta – Espaço Dias). Para uma prova dessa importância e com tantas dificuldades é fundamental um planejamento integrado e que permita manter o corpo em equilíbrio e competitivo.

MN: Qual foi ou foram as suas maiores dificuldades nessa preparação? Algo que realmente tirou você de sua zona de conforto ou foi pensado diferente das travessias que vc já superou?
PF: Em Dezembro, após minha última prova em 2016, tive pela segunda vez meningite, o que fez com que eu interrompesse os treinamentos. Felizmente após os resultados de todos os exames e constatarmos que não havia gravidade e em fevereiro retomei, aos poucos, os treinos. Esse episódio, inicialmente, me deixou bastante preocupada, pois ter meningite pela segunda vez não é mole, o corpo sente bastante e demorei a retomar todo o ritmo de treino. Agora o pensamento é firme na superação!

MN: Qual sua maior motivação para concluir esse desafio? Da onde tirar forças para nadar mais de 6 horas seguidas e pela primeira vez sem o calor da torcida próximo para motivar?
PF: Desafio e superação, são duas palavrinhas que andam sempre comigo. E com os desafios, busco sempre me superar. A idéia também é incentivar mais mulheres para a modalidade de maratona aquática, e mostrar o quanto é apaixonante esse esporte! Sempre com o pensamento a ser compartilhado de que: pessoas comuns também podem fazer coisas extraordinárias!
Ao longo dessa preparação, recebi muito carinho e apoio de amigos, familiares, equipe, pessoas próximas e outras distantes. Será difícil não ter a caída no mar do “cardume navegantes” junto a mim, mas levarei todos comigo em pensamento e no coração, com o nosso “boraaa” assim me sentirei forte. A força vem de dentro, e o foco no objetivo.

 

MN: Qual seria sua dica para quem pretende encarar uma prova de ultramaratona aquática? Como fazer a transição de provas curtas para longas adequadamente? E como escolher qual prova fazer?
PF: A dica é sempre treino para adaptar o corpo a esse esforço maior. Particularmente acho legal o atleta se testar e fazer uma transição de provas mais gradativa, seguindo uma linha: 5km, 10km, 20km, 30km… Conforme o volume de treino for aumentando, o atleta pode aumentar o volume de provas, mas sugiro orientação do treinador.

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