Ciclo olímpico com Allan do Carmo

Allan do Carmo conta os detalhes para mais um ciclo olímpico

Por Giovana de Paula

 

O baiano Allan do Carmo treina forte para dar aquela ‘apimentada’ nas competições

Mas afinal, o que é que a Bahia tem? Como se não bastasse a raça, categoria, técnica de Ana Marcela Cunha para as disputas das maratonas aquáticas, o estado nos presenteou com Allan do Carmo, também uma grande esperança de continuarmos a obter excelentes resultados na modalidade.

Baiano de Salvador, Allan realiza mais um ciclo olímpico, visando agora, Tokyo 2020. Ele já participou de duas olimpíadas: Pequim 2008, quando terminou em 14 º, e no Rio de Janeiro 2016, ficando em 18º, encerrando os 10 quilômetros na praia de Copacabana em 1h53m16s4.

A disputa no Rio foi vencida pelo holandês Ferry Weertman. Ele e o grego Spiros Gianniotis fizeram o mesmo tempo: 1h52m29s8. Mas, na revisão feita através do vídeo, o ouro ficou para o holandês. O francês Marc-Antoine Olivier completou o pódio na terceira colocação.

Anteriormente, Allan do Carmo  não havia obtido o índice para competir em Londres e, segundo ele conta em entrevista exclusiva à coluna Braçada Perfeita, esta foi uma de suas mais duras lições.  “Dali, tive de me refazer”.

Acompanhe na sequência, mais detalhes de nossa conversa com o baiano Allan do Carmo.

 

– Preparo físico, confiança e motivação. Como um bom baiano, qual o tempero que não pode faltar à sua natação? Qual é a ‘pimenta’ que você coloca na água?

Treino! Sem ele não preparo físico, nem confiança e motivação para poder da aquela ‘apimentada’ nas competições.

 

– Allan, o acarajé, é uma comida ritual da orixá Iansã. Na África, na língua iorubá, é chamado de “àkàrà”, que significa “bola de fogo”, enquanto que “jê” possui o significado de “comer”. “Acará” também é o nome de um pedaço de algodão embebido em azeite que era colocado em chamas e engolido pelos filhos de santo para estes provarem que estavam em transe, nos rituais de candomblé (daí, a expressão “bola de fogo”).  Em meio às dificuldades que a maioria dos atletas passa para chegar ao topo, muitas “bolas de fogo” são transpostas, servindo de inspiração às conquistas. No seu caso, cite as principais “bolas de fogo” que você teve que transpor para chegar ao nível que você atingiu.  

Muitas “bolas de fogo” foram superadas na minha vida esportiva, mas a principal foi, depois de ter ficado de fora dos jogos Olímpicos de Londres, ter que me reerguer para conseguir a classificação, da melhor forma possível, para as Olimpíadas de 2016, que foram realizadas no Brasil.

 

– Qual sua relação com a espiritualidade e quais são as suas ‘oferendas’ para os deuses, em forma de agradecimento pelos resultados alcançados? Como você lida com a questão religiosa para se manter tranquilo durante uma prova com duração de horas?

Sou católico de criação e espiritualista. Tenho minhas crenças e nunca deixo de fazer minha oração junto ao meu treinador antes de entrar na água.

 

– Abordando um pouco o seu treinamento, você ainda continua nadando, em média, 80 km por semana, e muitas vezes puxando o bote com o seu treinador, com cerca de 122 kg no total? Você ainda faz este tipo de treinamento para aliar força e resistência?

Esse é um tipo de treinamento que ainda usamos em algumas fases de desenvolvimento, normalmente realizado no mar, como forma de introduzir um trabalho de força e resistência durante o treino.

 

– E como são trabalhados os aspectos técnicos? Quais exercícios você destaca que contribuíram para sua evolução? Quais destes são os que você não pode ‘nem sonhar’, pois foram extremamente difíceis para você?

No geral, fazemos um trabalho de muito volume de treino durante a semana e os aspectos técnicos são um trabalho mais específico, conforme as minhas deficiências identificadas durante os treinamentos. O que eu tenho maior dificuldade e que exigem muita atenção são os exercícios para o quadril e o ombro, que são as áreas nas quais sempre necessito ter um reforço extra.

 

– Daí você olha para o mar, uma maré muito forte. Fora dele, aquele friozinho chato, aquele chuvisco insistente…Assim foi a prova da Travessia do Canal de Ilhabela no ano passado que, de maneira inédita, teve que, devido às condições climáticas acima descritas, optar pela terceira opção de percurso, o “Canal Fechado”. Eu estava lá e confesso: nunca senti tanto medo de entrar no mar como naquela prova. Você venceu os pouco mais de 3 kilômetros da prova com o tempo 31’55’’. Como você se prepara mentalmente para estes desafios? 

São muitos anos de vivência nesses tipos de prova. Quando me deparo com uma prova organizada e com uma boa estrutura, já passa uma tranquilidade maior para o atleta.  Já ter nadado provas de 5,10 e 25 km faz com que não me assuste tanto com uma prova de 3km.
Como um atleta iniciante deve se preparar para se manter calmo e se manter na prova?

Fazendo um trabalho de mentalização da prova, imaginando-se fazendo todo o percurso, passando boia por boia até a chegada. Essa é uma das formas que utilizo para me sentir mais calmo antes de uma prova mais tensa.
– Em uma definição, “atleta é o guerreiro moderno, é quem trava lutas com suas próprias limitações e quem desafia o impossível. É o nome dado a pessoas com dedicação sobre-humana e quem usa suas próprias falhas para crescer”. Em sua concepção de vida, pessoal e esportiva, como se constrói a relação do ser humano com o atleta?  Quais as bases que o “homem” Allan do Carmo traz do “atleta” Allan do Carmo?

Muitas. Minha educação e experiência de vida vieram todas através do esporte com muita disciplina, comprometimento e abdicação. Então, levo muito em mim, para o aspecto pessoal, essa raiz do “atleta” Allan do Carmo.
– Allan, qual é a sua ‘braçada perfeita’?  

Vou completar em 2018, nada menos que 21 anos de natação. Aquele menino que abandonou o judô em detrimento à natação, nem de longe sonhava com o Allan de hoje. Nem imagino o que eu diria para o “Allanzinho”…Onde errei? Onde acertei? No meu início tudo era como uma brincadeira, uma forma de diversão. Até que chegou a um ponto no qual eu tive uma oportunidade de sentir o que é ser um atleta e poder sonhar como um atleta. Eu já cheguei a errar muito, mas encarei tudo como um aprendizado para minha vida, tentando me superar, sempre. Então não mudaria nada do que foi feito até aqui.
– Principal objetivo a ser alcançado:
Hoje é completar mais um ciclo olímpico, chegando a Tokyo em 2020!
– O diferencial entre o esporte amador e o profissional: 
O rico nível de detalhes no esporte profissional, que fazem a diferença. Então, temos que ser detalhistas em todos os sentidos: alimentação, treino, descanso e todos os tipos de situações que possam interferir em nosso rendimento esportivo.
– Uma lembrança marcante:
Medalha de bronze obtida nos Jogos Panamericanos no Rio em 2007, na praia de Copacabana, super lotada.

Perfil

– Nome completo: Allan Lopes Mamédio do Carmo

– Idade: 28
– Data e local de Nascimento: Salvador, 3 de agosto de 1989
– Melhores marcas na carreira:

Medalha de bronze (10 km) nos Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio
Medalha de ouro (5 km) nos Jogos Sul-Americanos de 2006 em Buenos Aires
Medalha de ouro (10 km e revezamento misto) nos Jogos Sul-Americanos de 2014 em Santiago
Vice-campeão (revezamento misto) mundial em 2015
3° colocado (revezamento misto) no mundial em 2013
Campeão do circuito mundial em 2014
Vice-campeão do circuito mundial em 2009, 2015 e 2017

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